- Garoto, o seu nome é o de um desbravador, mas você nunca será como um de nós. Você
pode maquiar-se, vestir roupas rasgadas, cheirar mal, mas continuará sendo você mesmo. No seu
mundo, vocês crêem que a embalagem muda o valor do conteúdo. No meu mundo isso é
uma tolice. Você continuará sendo um prisioneiro.
Marco Polo ficou abismado:
- Prisioneiro do quê?
- Do sistema.
- Eu sou livre!
- Você pensa que é livre. Você tem os pés livres para caminhar e a boca livre para falar. Mas
você é livre para pensar?
- Creio que sim.
- Então me responda com sinceridade: Você sofre pelo futuro, ou seja, você se atormenta por
coisas que não aconteceram?
- Sim - disse, consternado.
- Você tem necessidades que não são necessárias?
- Sim.
- Você sofre quando alguém o critica? É preocupado com a opinião dos outros?
- Sim.
Falcão se calou e Marco Polo ficou pensativo. Lembrou-se do quanto as opiniões do seu
professor e de seus colegas de classe o atormentaram. A discriminação que sofreu fora registrada
de maneira privilegiada, gerando um conflito. Perdeu o sono algumas vezes. Deixou que o lixo de
fora invadisse sua emoção.
Começou a analisar o que estava fazendo naquela praça. Conquistar Falcão era motivado pela
dor da discriminação e não pelo que realmente ele representava. Assim, começou a rever seu foco.
Com honestidade, admitiu:
- Não sou tão livre como imaginava.
Falcão continuou e pela primeira vez o chamou pelo nome.
- Marco Polo, o mundo em que você vive é um teatro. As pessoas freqüentemente representam.
Elas se observam o tempo todo, esperando comportamentos previsíveis. Observam seus gestos,
suas roupas, suas palavras. A liberdade é uma utopia. A espontaneidade morreu.
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